SISTEMA ENDÓCRINO
Conceito anatômico e funcional
As glândulas endócrinas, também
chamadas glândulas sem ducto ou glândulas de secreção interna, estão
representadas por órgãos relativamente pouco volumosos e localizados em regiões
diversas do corpo. Por não possuírem ducto ou ductos excretores, lançam seus
respectivos produtores de secreção – hormônios
– diretamente na corrente sangüínea. Este fato atesta a solidariedade
fisiológica que existe entre elas, isto é, são glândulas hormógenas, que
produzem hormônios. Por outro lado, não há nenhuma conexão estrutural
demonstrável entre estes órgãos, tal como encontramos, por exemplo, entre os
componentes do sistema digestivo ou do sistema respiratório. Portanto, a rigor,
não se poderia falar de um sistema
endócrino anatômico, embora a expressão seja de uso corrente. Isto não
exclui, todavia, o fato de que cada glândula endócrina desenvolve-se em intima
relação com um sistema com um sistema orgânico especifico, embora a falta de
conexão anatômica entre elas seja obstáculo suficiente para tornar discutível o
conceito de sistema endócrino, do ponto de vista anatômico.
Glândulas endócrinas
A elas pertencem a glândula tireóide,
paratireóide, supra-renal, pâncreas, hipófise, corpo pineal, ovário e testículo.
Glândula tireóide
Situa-se no plano mediano do pescoço,
abraçando parte da traquéia e da laringe. Tem a forma de um H ou de um U,
apresentando dois lobos, direito e esquerdo, unidos por uma fita variável
de tecido glandular, o istmo.
Glândulas paratireóides
Estão situadas, geralmente, na metade
medial da face posterior de cada lobo da glândula tireóide. Seu número varia de
2 a 6 e cada uma delas mede no máximo 6 milímetros.
Glândulas supra-renais
São bilaterais, estando localizadas
sobre o pólo superior dos rins onde podem ser facilmente visualizadas. Sua
porção central é a medula, e a
periférica, o córtex.
Pâncreas
É uma glândula mista. A parte
endócrina corresponde às ilhotas
pancreáticas (de Langerhans) microscópicas, disseminadas na porção exócrina.
Hipófise
É um corpo ovóide, cuja principal porção está
situada na fossa hipofisária do osso esfenóide onde, geralmente, permanece após
a remoção do cérebro. Faz parte do hipotálamo
e está ligada ao cérebro pelo infundíbulo.
Corpo pineal
Também denominado epífise, está localizado abaixo do esplênio do corpo caloso e faz
parte do diencéfalo.
Ovário
Modulo III
Testículo
Modulo III
SISTEMA NERVOSO
Conceito
As funções orgânicas, bem como a
integração do animal no meio ambiente estão na dependência de um sistema
especial denominado sistema nervoso. Isto significa que este sistema controla e
coordena as funções de todos os sistemas do organismo e ainda, recebendo
estímulos aplicados à superfície do corpo animal, é capaz de interpretá-los e desencadear,
eventualmente, respostas adequadas a estes estímulos. Assim, muitas funções do
sistema nervoso dependem da vontade (caminhar, por exemplo, é um ato
voluntário) e muitas outras ocorrem sem que delas tenhamos consciência (a
secreção da saliva, por exemplo, ocorre independente da nossa vontade). É fácil
verificar que, à medida que subimos na escala zoológica, a complexidade do
sistema nervoso aumenta, acompanhando a maior complexidade orgânica dos animais
considerados. Seu máximo desenvolvimento é alcançado no homem, pois nesta
espécie zoológica , o sistema nervoso responde também por fenômenos psíquicos
altamente elaborados.
Divisão do sistema
nervoso
Reconhecemos no sistema nervoso duas
partes fundamentais que são o sistema
nervoso central (SNC) e o sistema
nervoso periférico. A divisão é topográfica e também funcional, embora as
duas porções sejam interdependentes. O sistema nervoso central é uma porção de
recepção de estímulos, de comando e desencadeadora de respostas. A porção
periférica está constituída pelas vias que conduzem os estímulos ao sistema
nervoso central ou que levam até aos órgãos efetuadores as ordens emanadas da
porção central. Pode-se dizer que o SNC
está constituída por estruturas que se localizam no esqueleto axial (coluna vertebral
e crânio): são a medula espinhal e o encéfalo. O sistema nervoso periférico
compreende os nervos cranianos e espinhais, os gânglios e as terminações
nervosas.
Meninges
O encéfalo e a medula espinhal são envolvidos
e protegidos por laminas (ou membranas) de tecido conjuntivo chamadas, em
conjunto, meninges. Estas lâminas
são, de fora para dentro: a dura-máter, a
aracnóide e o pia-máter. A dura-máter é a mias espessa delas e a pia-máter a mais
fina. Esta última está intimamente aplicada ao encéfalo e à medula espinhal.
Entre as duas está a aracnóide, da qual partem fibras delicadas que vão ter à
pia-máter, constituindo uma rede semelhante a uma teia de aranha. A aracnóide é
separada da dura-máter por um espaço capilar denominado espaço subdural e da pia-máter pelo espaço subaracnóide, onde circula o líquido cérebro-espinhal (ou líquor).
Sistema nervoso central
Para melhor compreender as partes que
constituem o SNC é preciso partir de sua origem embriológica.
Vesículas primordiais
O SNC origina-se do tubo neural que, na sua extremidade
cranial, apresenta três dilatações denominadas vesículas primordiais: o prosencéfalo, o mesencéfalo e o rombencéfalo.
O restante do tubo é a medula
primitiva.
A cavidade ou luz do tubo neural existe
também nas vesículas primordiais.
a) Prosencéfalo – Com o decorrer do desenvolvimento, as
porções laterais do prosencéfalo aumentam desproporcionalmente e acabam por
recobrir a porção central, originando o telencéfalo
e o diencéfalo. A luz expande-se
também lateralmente, acompanhando o grande desenvolvimento do telencéfalo.
b) Mesencéfalo – O mesencéfalo desenvolve-se sem
subdividir-se e sua luz permanece como um canal estreitado.
c) Rombencéfalo – O rombencéfalo subdivide-se em metencéfalo e mielencéfalo. Neste
último a luz se dilata, como dilatada se apresenta também no telencéfalo e
(menos) no diencéfalo.
Partes do sistema
nervoso central
Destas transformações das vesículas
primordiais, originam-se as partes mais importantes do sistema nervoso central:
a)
o
telencéfalo e diencéfalo originam o cérebro,
sendo que os chamados hemisférios
cerebrais são de origem telencefálica.
b)
o
mesencéfalo permanece, com a mesma denominação, como uma parte do SNC;
c)
o
metencéfalo origina o cerebelo e a ponte;
d)
o
mielencéfalo origina o bulbo;
e)
o
restante do tubo neural primitivo, origina a medula primitiva e esta a medula espinhal.
O mesencéfalo , a ponte e o bulbo, em
conjunto, constituem o tronco
encefálico. Somente um corte mediano que separa os hemisférios cerebrais
pode demonstrar a presença das estruturas que constituem o diencéfalo. No
cérebro inteiro, o diencéfalo está recoberto pelos hemisférios cerebrais que
derivam do telencéfalo.
Ventrículos encefálicos
e suas comunicações
Nas transformações sofridas pelas
vesículas primordiais, a luz do tubo neural primitivo permanece e apresenta-se
dilatada em algumas das subdivisões daquelas vesículas, constituindo os
chamados ventrículos que se
comunicam entre si:
a)
a
luz do telencéfalo corresponde aos ventrículos
laterais (direito e esquerdo);
b)
a
luz do diencéfalo corresponde ao III
ventrículo. Os ventrículos laterais comunicam-se livremente com o III
ventrículo através do forame
interventricular;
c)
a
luz do mesencéfalo é um canal estreitado, o aqueduto cerebral, o qual comunica o III ventrículo com o IV ventrículo;
d)
a
luz do rombencéfalo corresponde ao IV
ventrículo; este é continuado pelo canal
central da medula e se comunica com o espaço subaracnóide.
Líquor
No espaço subaracnóide e nos
ventrículos circula um líquido de composição química pobre em proteínas,
denominado líquido cérebro-espinhal
ou simplesmente líquor, sendo uma de
suas mais importantes funções proteger o SNC, agindo como amortecedor de
choques. O líquor pode ser retirado e o estudo de sua composição pode ser
valioso para o diagnostico de muitas doenças. É produzido em formações
especiais – plexos corióides – situados
no assoalho dos ventrículos laterais e no teto do III e IV ventrículos.
Divisão anatômica
Em síntese, a divisão anatômica do
sistema nervoso pode ser acompanhada na seguinte chave:

Cérebro
Encéfalo Cerebelo
Mesencéfalo
Tronco encefálico Ponte
Sist. Nervoso Bulbo
Central
Medula
Sistema
Nervoso
Nervos
Sist. Nervoso
Periférico
Gânglios
Terminações nervosas
A maior parte do encéfalo corresponde
ao cérebro. Na superfície dos dois hemisférios cerebrais apresentam-se sulcos que delimitam giros. O cérebro pode ser dividido em lobos, correspondendo cada um, ao osso
do crânio com que guardam relações. Assim temos um lobo frontal, occipital, parietal e temporal. Do tronco encefálico originam-se 12 pares de nervos,
denominados cranianos, que saem pela
base do crânio através de forames ou canais. Da medula, por sua vez originam-se
31 pares de nervos espinhais que
abandonam a coluna vertebral através de forames denominados intervertebrais.
Disposição das
substâncias branca e cinzenta no sistema nervoso central
A observação atenta de um corte de
encéfalo ou de medula, permite reconhecer áreas claras e áreas escuras que
representam, respectivamente, o que se chama de substância branca e substância
cinzenta. A primeira está constituída, predominantemente, de fibras nervosas mielínicas e a segunda
de corpos de neurônio.
Na medula, a substância cinzenta forma um eixo central continuo
envolvido por substância branca. Em corte transversal vê-se que a substância
cinzenta apresenta a forma de um H ou de borboleta, onde se reconhecem as colunas anterior e posterior, substância intermédia central e lateral e, em parte da medula, a chamada coluna lateral.
O tronco
encefálico, no que diz respeito à estrutura, guarda alguma semelhança com a
medula, mas difere em vários aspectos. A substância cinzenta, que na medula é
um todo continuo, apresenta-se, no tronco encefálico, fragmentada no sentido
longitudinal, antero-posterior e látero-lateral. Formam-se, assim, massas
isoladas de substância cinzenta que constituem os núcleos dos nervos cranianos e outros núcleos próprios do tronco
encefálico. Deste modo uma nova conceituação pode ser feita aqui: um núcleo, no sistema nervoso central, é um
acúmulo de corpos neuronais com aproximadamente, a mesma estrutura e função.
Cérebro
e cerebelo, nos seus
aspectos mais gerais, apresentam um plano estrutural comum. Nele pode-se reconhecer
uma massa de substância branca, revestida externamente por uma fina camada de
substância cinzenta – córtex cerebral (no
cérebro) ou córtex cerebelar (no
cerebelo) – e tendo no centro massas de substância cinzenta constituindo os núcleos centrais (no cerebelo) ou os núcleos da base (no cérebro).
Como foi dito, a substância branca, em
qualquer nível do SNC está constituída predominantemente de fibras nervosas
mielínicas. Estas representam as vias pelas quais os impulsos percorrem as
diversas áreas do SNC e se organizam formando os chamados tractos e fascículos.
Sistema nervoso
periférico
Na divisão do sistema nervoso, foram
incluídos, como parte do sistema nervoso periférico, as terminações nervosas, gânglios e nervos. Preliminarmente, deve-se
ressaltar o fato de que as fibras de um nervo são classificadas de acordo com
as estruturas que inervam, isto é, conforme sua função. Por esta razão, diz-se
que um nervo possui componentes
funcionais. Assim, uma fibra que estimula ou ativa a musculatura é chamada motora e a que conduz estímulos para o
SNC é sensitiva. As fibras motoras
veiculam ordens emanadas do SNC e, portanto, em relação a ele, são ditas eferentes (que saem do SNC); as
sensitivas veiculam impulsos que devem chegar ao SNC e são, portanto, aferentes (que chegam ao SNC). Esta
classificação das fibras nervosas em motoras (eferentes) e sensitivas
(aferentes) é apenas esquemática: classificação mais minudente deve ser feita
para estudos de maior complexidade do sistema nervoso.
Terminações nervosas
Existem na extremidade de fibras
sensitivas e motoras. Nestas últimas, o exemplo mais típico é a placa motora. Nas primeiras, as
terminações nervosas são estruturas especializadas para receber estímulos
físicos ou químicos na superfície ou no interior do corpo. Assim os cones e
bastonetes da retina são estimulados apenas pelos raios luminosos; os
receptores do ouvido apenas por ondas sonoras; os gustativos por substâncias
químicas capazes de determinar as sensações de doce, azedo, amargo etc.; na
pele e nas mucosas existem receptores especializados para os agentes causadores
do calor, frio, pressão e tato, enquanto que as sensações dolorosas são
captadas por terminações nervosas
livres, isto é, não há uma estrutura receptora especializada para este tipo
de estímulo. Quando os receptores sensitivos são estimulados originam impulsos
nervosos que caminham pelas fibras em direção ao SNC.
Gânglios
Vimos que acúmulos de corpos celulares de
neurônios dentro do SNC são denominados núcleos. Quando estes acúmulos ocorrem
fora do SNC eles são chamados gânglios e
apresentam-se, geralmente, como uma dilatação.
Nervos
São cordões esbranquiçados formados
por fibras nervosas unidas por tecido conjuntivo e que têm como função levar
(ou trazer) impulsos ao (do) SNC. Distinguem-se dois grupos: os nervos cranianos e os espinhais.
Nervos cranianos
São 12 pares de nervos que fazem
conexão com o encéfalo. A maioria deles (10) origina-se no tronco encefálico.
Além do seu nome os nervos cranianos são também denominados por números em
seqüência crânio-caudal. A relação abaixo apresenta o nome e o número
correspondente a cada um dos pares cranianos:
I
– Olfatório
II
– Óptico
III
– Óculomotor
IV
– Troclear
V
– Trigêmeo
VI
– Abducente
VII
– Facial
VIII
– Vestíbulo-coclear
IX
– Glossofaríngeo
X
– Vago
XI
– Acessório
XII
– Hipoglosso
Há uma acentuada variação entre eles
no que se refere aos componentes funcionais, tornando-os muito mais complexos
do que os nervos espinhais. Alguns nervos cranianos possuem um gânglio, outros
têm mais de um e outros, ainda, não têm nenhum. Uma visão muito simplificada do
destino destes nervos é dada a seguir:
a) O
nervo olfatório é
puramente sensitivo e ligado à olfação, como o nome indica, iniciando-se em
terminações nervosas situadas na mucosa nasal.
b) O
nervo óptico, também
sensitivo, origina-se na retina e está relacionado com a percepção visual.
c) Os
nervos óculomotor, troclear e abducente inervam músculos que movimentam o olho, sendo que o III
par é também responsável pela inervação de músculos chamados intrínsecos do olho, como o músculo esfíncter da íris (que fecha a
pupila) e o músculo ciliar (que
controla a forma da lente).
d) O
nervo trigêmeo é
predominantemente sensitivo, sendo responsável pela sensibilidade somática de
quase toda a cabeça. Um pequeno contingente de fibras é motor, inervando a
musculatura mastigadora, isto é, músculos que movimentam a mandíbula.
e) Os
nervos facial, glossofaríngeo e vago – são altamente complexos no que se refere aos componentes
funcionais, estando relacionadas à sensibilidade gustativa e de vísceras, além
de inervar glândulas, musculatura lisa e esquelética. O nervo vago é um dos
nervos cranianos mais importantes pois inerva todas as vísceras torácicas e a
maioria das abdominais.
f) O
nervo vestíbulo-cocelar
é puramente sensitivo, constituído de duas porções: a porção cocelar está relacionada com os fenômenos da audição e a porção vestibular com o equilíbrio.
g) O
nervo acessório inerva
músculos esqueléticos, porém, parte de suas fibras acola-se ao vago e com ele é
distribuída.
h) O
nervo hipoglosso inerva
os músculos que movimentam a língua, sendo, por isso, considerado como o nervo
motor da língua.
Nervos espinhais
Os 31 pares de nervos espinhais mantêm
conexão com a medula e abandonam a coluna vertebral através de forames intervertebrais.
Ora, a coluna pode ser dividida em porções cervical, torácica, lombar, sacral e
coccígea; da mesma maneira, reconhecemos nervos espinhais que são cervicais,
torácicos, lombares, sacrais e coccígenos.
a) Formação
do nervo espinhal – O
nervo espinhal é formado pela fusão de duas raízes: uma ventral e outra dorsal.
A raiz ventral possui apenas fibras motoras (eferentes), cujos corpos celulares
estão situados na coluna anterior da substância cinzenta da medula. A raiz
dorsal possui fibras sensitivas (aferentes) cujos corpos celulares estão
situados no gânglio sensitivo da raiz
dorsal, que se apresenta como uma porção dilatada da própria raiz. A fusão
das raízes sensitiva e motora resulta no nervo espinhal. Isto significa que o
nervo espinhal é sempre misto, isto é, está constituído de fibras aferentes e
eferentes.
b) Distribuição
dos nervos espinhais –
Logo após a fusão das raízes ventral e dorsal o nervo espinhal se divide em
dois ramos: ventral (mais
calibroso), e dorsal (menos
calibroso). Os ramos dorsais inervam a pele e os músculos do dorso; os ventrais
são responsáveis pela inervação dos membros e da porção antero-lateral do
tronco.
c) Formação
dos plexos nervosos – Os
ramos ventrais que inervam a parede torácica e abdominal permanecem
relativamente isolados ao longo de toso o seu trajeto. Nas regiões cervical
(pescoço) e lombo-sacral, porém, os ramos ventrais entremeiam-se para formar os
chamados plexos nervosos, dos quais
emergem nervos terminais.
Observe este fato: como são vários os ramos
ventrais que participam da formação de um plexo, devido às inúmeras
interligações existentes nesta estrutura, as fibras de uma mesma raiz ventral
podem se distribuir em vários nervos terminais do plexo. Assim, como regra
geral, pode-se afirmar que as fibras de cada nervo espinhal que participa da
formação de um plexo, contribuem para constituir diversos nervos que emergem do
plexo e cada nervo terminal contém fibras provenientes de diversos nervos
espinhais.